23 February 2012
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 João Bicker e Alexandre Matos vinham de outras áreas do saber, mas apaixonaram-se pelo 'design' gráfico. Agora, a conimbricense FBA coleciona prémios internacionais

"Pelas suas características", a FBA - Ferrand Bicker & Associados "só podia ter nascido em Coimbra". Afinal, "qual a probabilidade de, em outro sítio, um biólogo e um estudante de engenharia eletrotécnica fundarem uma empresa de design gráfico?", questiona Alexandre Matos, diretor comercial da FBA e uma das personagens dessa história (o estudante). O enredo é improvável, mas teve sucesso: 14 anos depois da fundação, a marca conimbricense é famosa a nível nacional e coleciona alguns dos mais prestigiados prémios internacionais do sector.

Foi do cruzamento de saberes que Coimbra propicia que nasceu o encontro entre Alexandre e João Bicker (biólogo), dueto que hoje é a alma da FBA. "Coimbra é diferente. É uma cidade universitária, pequena, mas tem uma associação académica, cheia de secções culturais muito ativas, que é transversal à universidade", descreve Alexandre Matos. E nesse microcosmos deram-se os passos que levaram ao nascimento da FBA. Primeiro, quando João Bicker, ainda estudante de Biologia, se rendeu à paixão de "pôr as letras umas atrás das outras", criando capas de livros, a convite de Vasco Santos (editor da Fenda). E, depois, quando Bicker - que já tinha ganho protagonismo no meio do design - conheceu Alexandre Matos, no seguimento de um colóquio de fotografia, no qual o hiperativo estudante de engenharia se tinha inscrito como voluntário.

Em 1998, os desafios de trabalho ligados ao design gráfico já eram muitos. Era tempo de lançar uma empresa. O biólogo e o estudante juntaram-se à designer Maria Ferrand (que depois deixaria o projeto) e a um sócio de fora do sector. E continuaram o seu percurso sui generis dentro do design nacional.

"Nós não conhecíamos sequer ateliês nem designers. Já tinha a FBA há seis anos quando entrei pela primeira vez num ateliê. Não tínhamos conhecimento de escola. Falhou-nos muita coisa, com certeza, mas também não tínhamos vícios", conta João Bicker. Ele próprio, apesar da carreira longa e do "gosto de brincar com as letrinhas", é um autodidata, que se foi cultivando ao longo dos anos e aprendendo "com todos os designers" que foram passando pela FBA.

Porém, nada disso lhes travou o crescimento. Oferecendo design para "tudo o que seja comunicação visual" (suportes impressos, digitais e multimedia, identidades visuais, exposições e sinalética), foram ganhando projetos. Desenharam livros da editora Almedina, lançaram exposições da Fundação Calouste Gulbenkian e do Museu Nacional de Arte Antiga, criaram a imagem e identidade de espaços como o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (ver fotografia em cima) ou eventos como o Centenário da República. E foram somando prémios. Distinções como o Prémio Nacional Sena da Silva, do Centro Português de Design, vários Red Dot Awards, o European Design Silver Award, na categoria de design de livros, e dois 50 Books/50 Covers Award do AIGA (American Institute of Graphic Arts).

Estes últimos, que premiaram edições de livros do Grupo Almedina - desenhadas por Ana Boavida com a colaboração de João Bicker -, são "dos que mais orgulham" o diretor criativo da FBA. "É uma seleção de 50 livros, de 700 a 800 submissões que recebem, de todo o mundo. O presidente do júri era o Chip Kidd, que é uma pop star da área, e todos os elementos escolheram a nossa candidatura por unanimidade", explica.

Agora, garantida a "validação ao mais alto nível" que os prémios dão (diz Bicker), resta à FBA continuar a crescer. O próximo desafio é a evolução tecnológica - "muito do nosso trabalho deixa de ser tinta impressa sobre um suporte físico e é cada vez mais sobre um ecrã", esclarece Alexandre Matos. Mas isso não mete medo à empresa que deu um salto de Coimbra para o mundo

(In www.dn.pt/especiais/interior)