23 Enero 2012
sorgo_sacarino_na_bi.jpg

 

A produção de sorgo sacarino na Região da Beira Interior é viável e a sua utilização como matéria-prima para a produção de biocombustíveis, essencialmente bioetanol, aponta para valores muito competitivos. Esta é a principal conclusão da tese de doutoramento do docente do IPCB/Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) José Sarreira Tomás Monteiro, que sugere também que a cultura poderá ser ainda melhor rentabilizada se ao álcool etílico for acrescentada a produção de biogás, de eletricidade e calor – em regime de cogeração – a partir dos seus subprodutos.

Recentemente apresentada na Universidade de Praga, República Checa, a tese de doutoramento “Alternative Energy Production in Agriculture – Feasibility of bioethanol production from Sweet sorghum in Portugal” conclui que a produção de sorgo sacarino apresenta um potencial interessante para a região em estudo, tendo sido atingidas produções de até 93 toneladas/hectare e com doçuras de até 18º Brix, o que indica potenciais de produção de etanol da ordem dos 5100 litros/hectare.

O programa de estudos de doutoramento teve início em Novembro de 2006 e foi desenvolvido em regime misto, com a parte curricular a decorrer na Czech University of Life Sciences in Prague (CULS) e a vertente experimental em Portugal, na região de Castelo Branco. Em concreto, os estudos envolveram ensaios de campo da cultura do sorgo sacarino, instalados na ESACB, Quinta da Srª. de Mércules (Castelo Branco), no Ladoeiro (Idanha-a-Nova) e em Perais (Vila Velha de Ródão). Nestes ensaios foi feita uma avaliação do comportamento agronómico da cultura, tendo sido avaliados aspetos como a densidade de sementeira e as variedades utilizadas e sua influência sobre a produção e as qualidades industrialmente relevantes da biomassa assim obtida. Paralelamente foi avaliado o potencial de produção de álcool etílico por fermentação direta do sumo dos caules das plantas. O docente do IPCB/ESACB estudou também a viabilidade de concentração deste sumo, com produção de melaço (ou “xarope”), doce e estável, facilmente armazenável, para posterior utilização no processo de fermentação e produção de etanol, aspeto muito relevante para a industrialização deste tipo de matérias-primas doces. Os estudos incidiram igualmente sobre a qualidade da biomassa remanescente do processo de extração do sumo (“bagaço”) e a possibilidade de a conservar sob a forma de silagem, a utilizar na alimentação animal ou mesmo na produção de outras fontes de energia, como o biogás. Aquele subproduto poderá ainda ser valorizado no abastecimento de unidades de cogeração de calor e eletricidade “verde”.

Os resultados do estudo revelaram que a cultura se adapta bem às condições de solo e clima da região, pelo que poderá representar uma solução para os terrenos dos perímetros de rega da Beira Interior e para as empresas agrícolas aqui instaladas. Fica a faltar o indispensável investimento numa unidade de transformação/aproveitamento das potencialidades da cultura que viabilize o cultivo do sorgo sacarino à escala industrial, que permita colher todos os benefícios que daí poderão advir para os agricultores e para o país.

In (www.ipcb.pt)