20 Maio 2011
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Na região da Cova da Beira a área de terreno plantada com cerejeiras cresce todos os anos. Os novos produtores e as técnicas inovadoras também são uma realidade
OITO anos depois da decisão que lhe alterou a vida, Patrique Martins, começou há poucos dias a segunda colheita “a sério” nos seus pomares. São 15 hectares de cerejeiras, situados nas encostas da Gardunha, Enxabarda, que lhe têm garantido muito trabalho, uma enorme satisfação e o nome inscrito na lista dos mais recentes produtores da região. “Não queria passar a minha vida num escritório e chegar ao fim do mês com um ordenado baixo e sempre a depender de outros. Gostava do campo e decidi pela agricultura. Escolhi a cereja porque é fruto que estava a ter cada vez maior aceitação no mercado e que era rentável”, conta Patrique Martins, 32 anos. Filho de emigrantes naturais da Enxabarda, Patrique nasceu em França e veio para Portugal aos 14 anos, quando os pais regressaram definitivamente. Frequentou o ensino secundário e depois tirou um curso técnico de informática. Nunca chegou a trabalhar na área. Antes foi conquistado pela cereja. Assim, Patrique realizou uma formação como jovem agricultor, estudou o sector da fruticultura e elaborou um projecto que obteve apoio comunitário. O dinheiro “que não chegou todo junto” foi investido na compra de duas parcelas de terreno, nas plantas e nos custos do plantio e respectivo cultivo. “Não plantei Burlat nem de Saco (as mais conhecidas), optei pelas novas variedades porque dão calibres maiores e permitem uma maior rentabilidade até porque começam a dar fruto logo junto ao tronco. São cerejeiras que não vão crescer muito mais do que a altura de uma pessoa e isso permite poupar muito na mão-de-obra”, explica, revelando que nesta campanha espera, “se o São Pedro não pregar a mesma partidas do ano passado”, aumentar a sua produção das sete para as 20 toneladas. Número que deve duplicar, nos pomares de Filipe Costa, licenciado em engenharia agronómica, natural de Lisboa, mas com raízes em Alcongosta, que se fixou na região, assim que terminou o curso e onde, a par da actividade profissional, foi realizando a sua investigação para concluir o mestrado em Agricultura sustentável, especialização de fruticultura com base no caso específico da cereja. As conclusões teóricas foram postas em prática nos pomares da família, que lhe entregou a gestão dos mesmos. A revolução começou de imediato. O engenheiro até já arrancou pomares inteiros. O objectivo da reconversão é sempre a máxima rentabilidade. “A maioria das pessoas, mesmo aquelas que já plantam árvores rasteiras, opta pelo sistema de condução em vaso (forma arredondada), nós optámos pelo eixo revestido de sebe (assemelham-se a arbustos) porque está provado que se obtém a intensificação da produção e além disso também nos permite reduzir a mão-de-obra”, revela. Os resultados já se começarão a sentir este ano, quando os primeiros pomares reconvertidos estão a atingir a produção plena. Assim, de oito toladas colhidas em 2010 (muito por culpa do mau tempo na fase da floração), Filipe Costa espera este ano atingir uma produção entre as 40 e 50 toneladas.
(in Jornal do Fundão)